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Para começar precisamos esclarecer que animais que ficam doentes produzem sim anticorpos contra a Erlichia, porém, essa proteção não é vitalícia. Em média os anticorpos desaparecem dentro de 6-9 meses após finalizar o tratamento, sendo que cães que produziram altos títulos podem levar mais tempo para negativar os anticorpos.
Outro ponto importante que devemos levar em consideração é que não existe apenas um tipo de Erlichia e ainda assim, quando falamos de E. canis, não existe apenas uma E. canis. Espera aí, como assim? Existem diferentes cepas de Ehrlichia canis (homóloga ou heteróloga). Assim, cães em ambientes infestados de carrapatos podem se reinfectar com cepas diferentes, o que explica novos quadros da mesma “doença”.
Terceiro ponto, a Ehrlichia canis é transmitida por carrapatos, e a infecção pode ocorrer de 3 a 8 horas após a picada. Cães expostos a áreas infestadas têm um risco maior de reinfecção, especialmente se não há controle adequado dos carrapatos. Então, além de tratar o cão, é essencial o controle de carrapatos no ambiente.
Quarto ponto (para complicar um pouco mais). Também não basta utilizar carrapaticida sempre. Calma, a gente não ficou doido. Estudos recentes indicam que carrapaticidas usados por muito tempo podem perder a eficácia devido à resistência. Mantenha o monitoramento e, se necessário, alterne o princípio ativo.
Quinto ponto: o tratamento foi feito da maneira correta e até o final? Estamos lidando com uma nova doença ou com a mesma doença mas com complicações? É essencial completar o tratamento mesmo que o cão pareça melhorar ou que os exames mostrem melhora inicial. Isso previne uma possível piora do quadro existente, que pode ser confundida com reinfecção.
Dica extra – Como identificar se o tratamento foi efetivo (ou se você foi enganado)? Se a trombocitopenia persiste após o tratamento completo com doxiciclina, isso pode indicar falha no tratamento. Normalmente, as plaquetas devem começar a subir entre 24 e 48 horas após o início do tratamento, com normalização dentro de cerca de 14 dias. Caso não subam em até 7 dias, pode haver complicações adicionais, como anemia hemolítica imunomediada (AHIM).
E se o tratamento foi feito corretamente mas o animal não melhorou mesmo assim? aqui vai uma dica para você relacionado a esse assunto: caso ocorra hiperglobulinemia entre 6 e 9 meses após o término do tratamento, isso pode indicar infecções concomitantes, como Babesia ou Anaplasma, que não foram detectadas ou tratadas ou falha no tratamento ou uma resposta incompleta à terapia.
Meu paciente continua dando positivo no teste rápido mesmo estando melhor e negativo no PCR: alguns cães podem apresentar resolução clínica e laboratorial, mas manter altos títulos de anticorpos por anos. Nem sempre é possível determinar se esses títulos refletem infecção persistente ou apenas a presença residual de anticorpos.
Mas afinal de contas, os cães eliminam permanentemente a Erlichia ou não? a avaliação da eliminação completa do organismo ainda é um desafio, pois o “padrão-ouro” para confirmar a eliminação da doença não foi determinado para cães. Estudos experimentais mostraram que, após o desaparecimento dos sintomas clínicos ou trombocitopenia, exames tornam-se negativos, sugerindo a eliminação da bactéria. No entanto, em alguns estudos, 4 de 6 cães infectados experimentalmente mantiveram resultados positivos no PCR de aspirados esplênicos após 34 meses de infecção. Desses cães, dois mostraram PCR negativo em amostras de sangue, sugerindo que o baço pode ser o último órgão a abrigar E. canis durante a recuperação. Esse fato sugere:
1- A possibilidade de que o DNA de Ehrlichia detectado no baço possa representar organismos mortos, e não uma infecção ativa.
2- A eliminação efetiva do organismo pode ser considerada se a hiperglobulinemia e outras anormalidades clínicas e laboratoriais desaparecerem progressivamente, mesmo que o título de anticorpos permaneça positivo.